Com a chegada da pandemia da COVID-19 no Brasil e a necessidade do isolamento social para diminuir o risco de transmissão, as tele consultas se tornaram uma alternativa para as idas de rotina ao consultório. Assim, o médico pode avaliar quando é realmente necessária uma consulta presencial e quando é possível fazer o acompanhamento remoto.
Troca de receitas, acompanhamento de exames, sessões de terapia, entre outras situações, podem ser realizadas sem que o profissional e o paciente estejam no mesmo ambiente físico. As tele consultas são parte da chamada telemedicina, um conjunto de tecnologias utilizada para facilitar não só a vida do paciente, mas dos profissionais também, integrando prontuários, exames e outras informações que podem agilizar processos.
“A telemedicina teve esse boom durante a pandemia. Não só a telemedicina, mas a gente pode falar sobre a utilização de videochamadas para consultas. Já havia movimentações tímidas por parte dos conselhos de medicina antes, mas não estava na cabeça de todo mundo que a tele consulta tem a sua devida efetividade”, afirma Arthur Lima, dentista e um dos fundadores da Afro Saúde, uma health tech focada em serviços de saúde para a população negra.
Entretanto, apesar de ser uma ideia atrativa, existem prós e contras que devem ser avaliados, além das dificuldades de inserir esse tipo de atendimento para todos, já que requer recursos dos sistemas de saúde e do paciente. Apesar de a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua de 2019, feita pelo IBGE, indicar que 82,7% das casas brasileiras possuem acesso à internet, é preciso analisar qual a qualidade e o meio utilizado.
SUS não tem políticas públicas de teleconsultas
Outro ponto é que a grande maioria dos serviços que utilizam as tele consultas é privada, de convênios médicos ou consultas particulares. O SUS (Sistema Único de Saúde) tem poucos exemplos, e carece de políticas públicas, estrutura e equipes disponíveis preparadas para esse tipo de atendimento.
Cerca de 67% dos usuários que dependem exclusivamente do SUS são negros, de acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). O mesmo vale para os planos de saúde: 78,8% das pessoas negras do Brasil não possuíam nenhum plano de saúde, de acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde de 2013. Por esse motivo, o acesso dessa população à telemedicina se torna mais restrito.
Locais remotos, afastados dos grandes centros, tendem a ter um menor número de profissionais de saúde. Com a criação do programa Mais Médicos, profissionais generalistas chegaram às áreas mais remotas do país, mas em casos em que é preciso consultar médicos especialistas, a telemedicina poderia ser utilizada.
De acordo com o estudo Demografia Médica no Brasil 2020, cerca de 62,4% dos médicos brasileiros estão em apenas 48 cidades, todas com mais de 500 mil habitantes. Por conta disso, cidades menores têm um déficit, às vezes com menos de um médico por mil habitantes, recomendação mínima da Organização Mundial da Saúde (OMS).