Nesta semana iria escrever sobre a falta de mobilidade urbana para ciclistas em Ponte Nova e o perigo que os pedestres correm nas calçadas invadidas pelas bicicletas, além do péssimo estado de conservação (cheia de buracos e relevos). Mudei de ideia ao ver o vídeo em que Mariana “Mari” Ferrer, uma influencer digital de Florianópolis que foi humildada na frente do Promotor de Justiça (sic) e do Juiz de Direito (sic), sem que eles interviessem. Estou perplexo com esses tempos sombrios no Brasil!
A jovem reclamou do interrogatório para o juiz: “Excelentíssimo, eu tô implorando por respeito, nem os acusados são tratados do jeito que estou sendo tratada, pelo amor de Deus, gente. O que é isso?”, diz. As poucas interferências do juiz, Rudson Marcos, da 3ª Vara Criminal de Florianópolis, ocorrem após as falas de Gastão.
Na segunda semana de setembro, a hashtag #justiçapormariferrer alcançou aos trend topics do Twitter. O motivo: chegava ao fim o julgamento do empresário André de Camargo Aranha, acusado de estuprar a jovem promoter catarinense Mariana Ferrer, de 23 anos (na época tinha 21 anos e era virgem), durante uma festa em 2018, em Florianópolis. Ele foi considerado inocente. Inventaram a figura jurídica do estupro culposo. Como assim? Estupro é crime e pronto!
Segundo o promotor Thiago Carriço, responsável pelo caso, não havia como o empresário saber, durante o ato sexual, que a jovem não estava em condições de consentir a relação, não existindo, portanto, intenção de estuprar – ou seja, uma espécie de ‘estupro culposo’. O juiz Rudson Marcos aceitou a argumentação absurda, que está sendo investigada no CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público) e no CNJ (Conselho Nacional de Justiça).
A excrescência jurídica, até então inédita, foi a cereja do bolo de um processo marcado por troca de delegados e promotores, sumiço de imagens e mudança de versão do acusado. Imagens da audiência as quais o Intercept Brasil teve acesso mostram Mariana Ferrer sendo humilhada pelo advogado de defesa de Aranha na frente dos “homens da lei e da ordem”.
A defesa do empresário mostrou cópias de fotos sensuais produzidas pela jovem enquanto modelo profissional antes do crime como reforço ao argumento de que a relação foi consensual. O advogado Cláudio Gastão da Rosa Filho analisou as imagens, que ele definiu como “ginecológicas”, sem ser questionado sobre a relação delas com o caso, e afirma que “jamais teria uma filha” do “nível” de Mariana. Ele também repreende o choro de Mariana: “não adianta vir com esse teu choro dissimulado, falso e essa lábia de crocodilo”.
Em Ponte Nova, as redes sociais repercutiram o caso: “Vocês enxergam a qualidade de Judiciário que esse país tem? Vou nem citar episódios em que o judiciário diz não ter provas, mas ter convicção. Tô falando de um caso com provas, com DNA, com droga detectada no sangue. Isso, meus caros e minhas caras amigas, é a institucionalização do estupro. NÓS NÃO ACEITAMOS ESSE VEREDICTO”, manifesta Viktor Martinez.
“Tentei assistir por 03 (três) vezes o vídeo da “audiência” da Mari Ferrer. Só na terceira vez consegui passar da parte onde o “advogado” começa a ofendê-la. Depois das primeiras ofensas, confesso que chorei e estou com estômago revirado até agora. Três homens e uma mulher na tela, ela chora e pede respeito. Ela é tratada como uma bandida porque tem fotos sensuais. Estou perplexa, enojada”, desabafou Fernanda Ribeiro, secretária de Educação e de Cultura e Turismo (interina) em sua página no Facebook em 03/11.