“Esse coronavírus é muito esquisito. Tem gente que pega e não sente nada, outros desenvolvem quadros gripais com poucos ou muitos sintomas; outros, ainda, precisam ser internados nas UTIs com risco de perder a vida”, comenta Dráuzio Varela o seu portal de notícias e site especializado em medicina.
Mas, o que a literatura médica diz a respeito dos afortunados que não desenvolvem sintomatologia, tema de um artigo que acaba de ser publicado por Bianca Nogrady, na revista ”Nature”, publicação semanal com sede sem Londres, na Inglaterra?
Nas primeiras semanas da epidemia, as estimativas eram que até 80% das pessoas infectadas permaneceriam assintomáticas. Com o aumento do número de casos, a observação clínica reduziu essa porcentagem para cerca de 40%. Avaliações atuais, entretanto, chegaram a números bem mais modestos.
Publicada em outubro, uma análise conjunta de 13 estudos (metanálise) que envolveram 21.708 participantes, revelou que os realmente assintomáticos representam apenas 17% do total. Os demais desenvolvem sintomas no período máximo de 07 a 13 dias contados a partir do dia da transmissão do vírus. Na metanálise, foram classificados como assintomáticos apenas aqueles que nunca desenvolveram sintomas.
A contradição entre os 17% de assintomáticos, nessa publicação, e os números bem mais altos do passado é explicada pela inclusão indevida, no grupo das assintomáticas, de pessoas na verdade pré-sintomáticas, isto é, ainda sem as queixas que surgirão dias mais tarde.
COMO ELES TRANSMITEM O VÍRUS?
Bianca Nogrady revela que há interesse especial em conhecer a frequência segundo a qual os assintomáticos transmitem o vírus, uma vez que eles passam despercebidos na contagem geral dos casos. A maioria dos que fazem o teste RT-PCR é justamente constituída pelos que apresentam sintomas.
Estimar quantos permanecem assintomáticos tem importância epidemiológica, porque, sem perceber que estão infectados, eles exercem o papel de transmissores anônimos. Na casuística estudada, surgiu outro dado importante: o risco de indivíduos sem sintomas transmitirem o vírus é 42% mais baixo do que aquele representado pelos sintomáticos.
Como parte de um inquérito recente conduzido na cidade de Genebra, na Suíça, os pesquisadores desenvolveram um modelo para avaliar a disseminação do vírus entre pessoas que moram juntas. A análise dos dados os levou à conclusão de que o risco de uma pessoa assintomática transmitir o vírus para quem vive na mesma casa é quatro vezes menor do que o de alguém com sintomas.
Os epidemiologistas defendem que o grupo assintomático tem importância na disseminação da epidemia, uma vez que atuaria como transmissor anônimo do vírus. Apesar do risco mais baixo de disseminar a infecção, quem não está doente tem maior probabilidade de sair para as ruas sem máscara e de formar aglomerações do que de permanecer isolado em casa. Outros, embora concordem que essas pessoas transmitem o vírus, discordam da conclusão de que tenham papel preponderante na disseminação comunitária, baseados no argumento de que aqueles sem sintomas não andam por aí tossindo, espirrando e infectando superfícies. Como a maioria dos infectados são sintomáticos, o esforço deveria ser concentrado em identificá-los precocemente e isolá-los, medidas que eliminariam a maior parte das novas infecções.