Em fevereiro o Brasil realizou o primeiro Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) digital, que, aliás, foi um fracasso completo: mais de 70% de ausentes. Em entrevista a um canal de TV um estudante que compareceu, virtualmente, disse que o Enem era importante para o meio ambiente, pois eliminava papel, poupando árvores. Grande bobagem dita pelo candidato ao curso superior, pois o papel é feito de árvores certificadas, ou seja, plantadas para tal fim e não se usa árvore de mata nativa para fabricação da celulose.
Quem usa um smartphone, um aparelho celular que possui um sistema operacional necessário para exercer distintas funções por meio de programas ou aplicativos (os famosos apps), algo que era comum apenas em computadores, está plugado em tudo no mundo exterior. Os pequenos aparelhos têm revolucionado a vida de muitas pessoas, pois não importa em que local o usuário esteja (casa, trabalho, rua, praia), ele sempre poderá se conectar com o mundo e executar uma infinidade de tarefas complexas com a ponta de seus dedos.
O smartphone se tornou um bem quase essencial no dia a dia contemporâneo, mas pouca gente conhece os impactos ambientais causados por esse celular inteligente. Com tantos atrativos, a indústria de smartphones cresceu rapidamente e lança novas funcionalidades “essenciais” em uma enxurrada de aparelhos.
Mas eles não duram muito, pois o tempo de vida é bem programado pelos fabricantes. Você já deve ter passado pela situação de, após um certo período, ver seu smartphone começar a apresentar defeitos diversos, sem nenhuma razão aparente senão o fato de ele estar ficando velho. Esse é apenas um dos impactos ambientais dos novos celulares. Este lixo eletrônico vai parar na natureza e contaminando o solo.
Dentre os diversos recursos extraídos do meio ambiente para a produção de um smartphone, destacam-se minerais como lítio, tântalo e cobalto, além de metais raros, como a platina, o que intensifica a pegada global em 18 metros quadrados de solo, 12.760 litros de água e 16 quilos de emissões de carbono.
Segundo o DMAES (Departamento Municipal de Água, Esgoto e Saneamento) de Ponte Nova em um banho econômico de chuveiro elétrico, utilizamos aproximadamente 15 litros de água. Portanto, poderíamos tomar 850 banhos com a mesma quantidade de água utilizada na produção de um único smartphone.
Segundo o site Ecicle, outro ponto impactante ao meio ambiente são os elementos de terras raras que são utilizados para a fabricação de ímãs, baterias, luzes de LED, alto-falantes, placas de circuito impresso e telas de vidro polido. O mercado mundial desses elementos é dominado pela China que, ao extrai-los, causa fortes impactos ao meio ambiente. Os resíduos de sua extração incluem o arsênio, bário, cádmio, chumbo, fluoretos e sulfatos. A partir de uma tonelada de minério, 75 mil litros de efluentes ácidos são gerados, além de uma enorme quantidade de efluente gasoso e pouco menos de uma tonelada de resíduos radioativos.
Assim, o estudante que tentava passar para o curso superior via Enem digital deveria se inteirar do que fala para não emitir informações inadequadas e falsas, criando uma ideia errada dos aparelhos eletrônicos, que são necessários e geram impactos, muitas vezes irreversíveis. Mas, a nanotecnologia já estudando reverter as partículas de minerais em outros elementos sem usar o solo para se fabricar um smartphone ou notebook e outros.
(*) Ricardo Motta é jornalista, escritor e poeta. Ambientalista desde 1977