A versatilidade do bambu: alimento, fixador de carbono e construção civil
A começar por uma constatação fantástica: a planta chega a crescer 01 (um) metro por dia. O bambu ainda tem muito a ser explorado no Brasil, na construção civil, indústria de móveis, papel e celulose e até como fonte de alimentação e matéria-prima para aguardente, vinho e cerveja. Quando se pensa na utilidade do bambu, quase sempre o que vem à cabeça são peças de artesanato ou móveis de conceito rústico. Mas a planta serve para isso e muito, muito mais. Os chineses têm verdadeira devoção por esta planta e descobriram as suas 1.001 há mais de 05 (cinco) mil anos. Versátil, resistente, abundante e ecologicamente correto, o bambu tem potencial para ser cultivado em larga escala no Brasil, servindo como fonte de biomassa na geração de energia e como matéria-prima da construção civil.
O Brasil é o segundo país com mais espécies nativas de bambu no planeta, só perdendo para a China. Temos entre 250 e 260 espécies, concentradas em áreas de difícil acesso, como a região amazônica, o Acre e o Mato Grosso. Já as espécies que estão em regiões mais acessíveis, não têm tanto potencial econômico ou há pouca pesquisa acadêmica sobre elas.
Os chineses são o povo que melhor aproveita o potencial da planta. Além de ser comida do panda, o bambu serve para a alimentação humana (consumo do broto e faz-se aguardente, vinho e cerveja a partir dele), além de ser usado na geração de energia térmica e elétrica e para construir verdadeiras obras-primas da construção civil. Em muitos países, ele está associado à cultura e história das sociedades. O segredo do vegetal, segundo especialistas e produtores de bambu, está na raiz (ou rizoma), que cresce sem limitação, o que por um lado dificulta plantar bambu junto com outras culturas. Mas tendo conhecimento sobre como fazer o plantio, é possível fazer absolutamente qualquer coisa com o bambu.
Neste ano, o Brasil se filiou ao International Network for Bamboo and Rattan (INBAR), uma rede intergovernamental que desenvolve e promove soluções inovadoras com o uso do bambu, tendo como foco a sustentabilidade ambiental. O Brasil pode se aproveitar da expertise dos 43 países associados, sobretudo com pesquisas para a utilização do bambu e capacitação de mão de obra.
Lei do Bambu
Antes da Lei do Bambu, sancionada pela presidente Dilma Rousseff, em 2011, cortar bambu era crime ambiental. A lei introduziu o conceito de que o bambu faz parte das propriedades como produto agrícola, principalmente no uso para fazer cerca, criar represas de peixes, recuperar áreas degradadas e para construção de galinheiros e casas para pequenos animais no meio rural. Cortar bambu em área de preservação permanente, como as margens de rios, ribeirões e córregos, continua crime ambiental.
O bambu é considerado um bom fixador de Carbono (C02), o que contribui para a redução das emissões e, por consequência, arrefece os impactos das mudanças climáticas. De outro lado, alguns chegam a afirmar que o bambu é mais leve que a madeira e com tração similar à do aço. Nesse contexto, tem-se a Lei nº 12.484/2011, instituidora da Política Nacional de Incentivo ao Manejo Sustentável e ao Cultivo do Bambu.
(*) Ricardo Motta é jornalista, escritor e poeta. Ambientalista desde 1977