O Brasil não é um país com práticas olímpicas. Da última semana de competições no Japão vem a mensagem que nos leva a entender nossas limitações. A mais direta delas diz respeito à falta de estrutura e estímulo nas escolas de todos os níveis. A obrigatoriedade da presença do professor de Educação Física é pura formalidade. Nada mais do que cumprir uma obrigação legal. Não é preciso inventar nada, apenas espelhar-se nos modelos bem-sucedidos mundo afora. Quando da Olimpíada do Rio de Janeiro (2016) muito se falou no “legado olímpico”. O discurso era conversa fiada para encobrir os custos faraônicos e as falcatruas movidas pela corrupção do dinheiro público comandada pela trupe de notáveis autoridades políticas. O Parque Olímpico está virando sucata.
Gastou-se R$ 41,0 bilhões na construção da estrutura (em processo de sucateamento) e mais R$ 9,1 bilhões para estruturar a cidade de sistema de logística adequado a demanda dos jogos. Somando-se aos R$ 21,0 bilhões gastos na Copa do Mundo (2014), temos R$ 71,1 bilhões de reais mal gastos. Valor que não cabe no orçamento de nenhum país com as carências iguais às nossas. Esse valor aplicado na Saúde, Educação e Segurança, traria melhor retorno. Esse sentimento não é recente. Nas duas oportunidades manifestei-me contra os eventos pelos motivos que hoje parecem óbvios. As incompetências dos governantes da época me eram latentes.
Para se transformar num país com práticas olímpicas é preciso tempo e muito investimento. Centros especializados em treinamentos específicos e estrategicamente distribuídos pelo país para preparar potenciais – atleta está em falta. Investimento nas escolas até o ensino médio e faculdades, com técnicos bem formados e voltados para competições, abriria um bom leque de oportunidades. Faltam competições no país. Os intercâmbios escolares praticamente inexistem e quando ocorrem, nada acrescentam. E o mais importante: é preciso criar em todos a mentalidade olímpica competitiva e buscar parceria na iniciativa privada. Outra providência necessária é afastar corruptos de qualquer processo.
Brasileiro ganhar medalha olímpica é ponto fora da curva. Com uma das maiores delegações de atletas nos jogos, o Brasil tem o pior custo-benefício quando se trata de medalhar. Ganhar medalha de ouro, raridade entre nós, é motivo de glória suprema mais importante que a fome e o meio ambiente que vivem a mercê do acaso. Uma inversão de valores a que, de forma equivocada, estamos nos acostumando.
Nossos “brazucas” estão lá competindo às custas de muito sacrifício e pouco apoio. Essa é a regra. Nesse contexto é compreensível as emoções. Levaremos muito tempo para melhorar esse quadro. A prata e o bronze são filhas do ouro. Por ora, mamãe está ocupada com outros afazeres. Nossos competidores voltarão de Tóquio bronzeados e pouco dourados. Por fim um alerta. Sabe aquela turma que torrou R$ 71,1 bilhões com Olimpíada e Copa do Mundo no Brasil? Pois é! Estão querendo voltar ao poder para novas proezas. Se, pelo menos devolvessem os US$ 299,0 bilhões enviados via BNDES para países comandados por ditadores, eu desejaria a eles o purgatório. ABRAÇO A TODOS OS PAPAIS