“Nem tudo o que é econômico é financeiro. Lamentavelmente, porém, tudo o que é financeiro é econômico”, diz (**) Amyra El Khalili.
Para entender melhor é necessário reconhecer os paradoxos da água: a água é vida e morte, liberdade e escravidão, esperança e opressão, guerra e paz. A água é um bem imensurável, insubstituível e indispensável à vida em nosso planeta, considerada pelo Artigo 225 da Constituição Brasileira, bem difuso, de uso comum do povo.
Vem a calhar o que penso e Átila Assis, o engenheiro agrícola e ambiental que esteve na Tribuna Livre da Câmara Municipal no dia 11/ 02, me inspirou este tema, que é me caro eternamente. Sou amante da utopia e continuo lutando contra os moinhos de vento e contra a lógica perversa do voto, quando os candidatos fazem tudo para alcançar o poder. Para isso, contam com a massa ignara e ansiosa por asfalto.
Á água é mesmo uma miragem do bem em Ponte Nova, mas em tempos de chuvas e enchentes a água passa a ser o terror das populações ribeirinhas. O que tem a água com isto? Os homens e principalmente os detentores do poder são os verdadeiros culpados pelo que acontece na cidade que governam. Ocupações desordenadas às margens do Rio Piranga e dos córregos provam que o poder público finge que não vê ou então liberam, surrupiando o que diz a lei.
O Estatuto da Cidade, Lei Federal nº 10.251 sancionada em 10 de julho de 2001, prevê o nível de impermeabilização do solo no perímetro urbano. Quem a obedece? Enquanto fui presidente do Codema constitui uma Câmara Técnica de Construção Civil, Infraestrutura e Urbanismo (CTCIU) que baixou normas proibindo que os novos loteamentos fossem impermeabilizados com asfalto. Todos os loteamentos que passaram na minha gestão (1997- 2017) são de bloquetes, com redes de drenagem, arborizados: Primavera, Alto Guarapiranga, Cidade da Serra e Vale do Sereno I.
O primeiro loteamento aprovado depois da minha saída (forçada criminosamente com apoio da Câmara Municipal em 2016) já tem asfalto e é citado na denúncia/alerta citada na Tribuna Livre da Câmara Municipal por Átila Assis. O que se viu nos últimos anos foi a colocação tresloucada de asfalto em ruas dos bairros São Pedro, sem o cuidado de redes de drenagem. O asfalto na Avenida Dr. José Mariano, sem necessidade, já está em situação precária, por causa da quantidade água de chuva que escorre das partes altas. Mas, qual o quê? Asfalto dá voto e muito!
Enquanto termino este artigo que será publicado na edição 426 do Líder Notícias, em 26 de fevereiro, as chuvas continuam caindo e arrastando placas de asfalto em vários pontos da cidade.
O nível do Rio Piranga sobe e o Bairro Santo Antônio entra em alerta por causa da quantidade de água que vem chegando da região onde impera a lógica perversa do capitalismo: “estou no alto, a chuva vai escorrer, minhas terras estão cada vez mais valorizadas. Ainda mais que mais o fórum está chegando pelas bandas de cá!”.
(**) Amyra El Khalili é beduína palestinobrasileira. É professora de economia socioambiental e editora das redes Movimento Mulheres pela P@Z! e Aliança RECOs – Redes de Cooperação Comunitária Sem Fronteiras, em São Paulo. É autora do e-book Commodities ambientais em missão de paz: novo modelo econômico para a América Latina e o Caribe.
(*) Ricardo Motta é jornalista, escritor e poeta. Ambientalista desde 1977