SETEMBRO AMARELO
Setembro é o mês em que é realizada a campanha de conscientização sobre a prevenção do suicídio, sendo o dia 10 desse mês o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio. Essa campanha, conhecida como “Setembro Amarelo”, foi criada no Brasil, em 2015, pelo Centro de Valorização da Vida (CVV), Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).
Falar ou não falar? Eis a questão. Se a morte em si já é um tabu, o suicídio é um tabu dentro do tabu e mata 01 (uma) pessoa no mundo a cada 40 segundos. A estatística, da Organização Mundial da Saúde (OMS), chama atenção para urgência de derrubar as barreiras que cercam o tema. E se, por muito tempo, falar sobre isso trazia desconforto, agora, conscientizar é um caminho rumo à prevenção.
Tema da campanha Setembro Amarelo, este é o assunto da série especial de reportagens “Uma chance para a vida”, produzida pela editoria “Mais Conteúdo”, que ouviu cuidadosamente psicólogos, psiquiatras, pesquisadores, familiares que perderam entes queridos e, também, pessoas que atentaram contra a própria vida.
De repente, os problemas e as dificuldades ficam maiores, se tornam barreiras quase que intransponíveis. O silêncio, a solidão e o sentimento de não pertencimento e de incompreensão batem forte. E é nesse momento que vidas são desfeitas. Só em Minas Gerais, já foram 150 suicídios por mês neste ano (2021), somando 900 entre janeiro e junho. Além disso, a cada 30 dias, foram 174 tentativas, ou 1.045 no primeiro semestre, segundo a secretaria de estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp).
ALÉM DAS ESTATÍSTICAS
Os números citados nesta matéria jornalística são os casos que entraram para as estatísticas, mas há ainda aqueles que se retiraram da vida ou pensaram nisso sem que ninguém se desse conta. E não são poucos: ao longo da vida, 17,1% das pessoas “pensaram seriamente” em se matar, 4,8% chegaram a elaborar um plano para isso, e 2,8% efetivamente tentaram o suicídio, segundo estudo feito no Brasil por pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Entre o pensar e o efetivar a morte de si, existe um limbo. Segundos, minutos, horas, dias se passam. Não há uma regra porque cada caso é único, o que impossibilita qualquer tipo de generalização. Isso é um consenso entre os especialistas ouvidos. Mas uma estatística chama a atenção: para a Organização Mundial da Saúde (OMS), 90% dos suicídios poderiam ser evitados caso a pessoa recebesse a ajuda adequada.
Segundo especialistas, é preciso reconhecer que o suicídio é um fenômeno de alta complexidade, multifatorial, e não dá para que as pessoas queiram fazer ligações lineares de causalidade – por exemplo, isso gera aquilo. “O ser humano não é assim, o campo da subjetividade não é assim, muito menos o comportamento suicida, que é desde a pessoa ter a ideia de se matar, construir planejamentos, tentativas e, infelizmente, as pessoas que chegam ao ato em si”, afirma a conselheira do Conselho Regional de Psicologia de Minas Gerais (CRP/MG), Cristiane Nogueira.
Apesar de, em muitos casos, ser possível estender uma mão e tentar salvar aquela vida, essa não é uma tarefa simples e não deve ser carregada de culpabilidade. O suicídio pode ocorrer de forma planejada, com sinais prévios, ou não. “Não há uma definição concreta de características de pessoas com idealizações suicidas. O perfil que se traça não dá conta da infinidade de afetos que participa disso, porque a dor não tem a mesma roupagem para todo mundo e, em algumas histórias, ela nem é perceptível pelos mais próximos”, diz a doutora em psicologia e estudiosa do tema, Elizabeth Avelino Rabelo.